Lázaro Ramos e Criolo contam no cinema história vitoriosa de jovens músicos da periferia
Sérgio Machado dirige filme inspirado na Orquestra de Heliópolis
No set: em ‘Acorda Brasil’, Lázaro Ramos leciona música para jovens de uma comunidade dominada pelo traficante Cleyton, vivido por Criolo
SÃO PAULO - Em meio a notas musicais de Bach, Guerra-Peixe e Villa-Lobos, numa roda com 21 adolescentes de violino, violoncelo e contrabaixo na mão, Lázaro Ramos puxa um "É devagar/ É devagar/ devagarinho" para quebrar a seriedade num intervalo das filmagens de "Acorda Brasil", longa-metragem que o diretor Sérgio Machado roda há cerca de um mês, em solo paulista. Preparados para o filme ao longo de um ano de ensaios com instrumentos musicais, o time de jovens atores arrisca toda a sorte de experimentação.
No sábado, quando o GLOBO visitou um dos sets do filme, na Comunidade
Monte Azul, em Jardim São Luiz, São Paulo, eles arriscaram uma variação
com ar de sinfonia clássica dos versos "Foge, foge Mulher Maravilha/
Foge, foge com o Superman", do axé "Liga da Justiça", do grupo LevaNóiz.
—
Filmar com essa galera é uma experiência libertadora para qualquer ator
— elogiava Lázaro, que interpreta o maestro Laerte na produção de cerca
R$ 8,5 milhões inspirada na trajetória de superação da Orquestra de
Heliópolis.
Com distrubuição assegurada para 2013, via Fox Film, o
novo longa do diretor de "Cidade Baixa" (2005) recria com licença
poética e humor a saga da orquestra criada pelo maestro Silvio Bacarelli
para estimular a inclusão cultural de jovens de uma das maiores favelas
paulistanas. Nos anos 1990, Bacarelli começou a formar músicos egressos
de comunidades menos abastadas de São Paulo.
— Este é um filme
para mostrar que o Brasil não é um país condenado ao fracasso — diz
Machado, que escreveu o roteiro com Maria Adelaide Amaral e Marta
Nehring em diálogo com a peça homônima de Antonio Ermírio de Moraes e
fatos reais. — É uma história falada no dialeto da periferia, que
denuncia a tragédia social brasileira, buscando esperança.
‘Namíbia, não’ a caminho
Aos
17 anos, a violinista Girleide Vitorino, moradora de Monte Azul,
integra a trupe de estudantes recrutados em diferentes regiões de São
Paulo por Fátima Toledo, preparadora de elenco do longa, produzido pelos
irmãos Caio e Fabiano Gullane ("O ano em que meus pais saíram de
férias").
— Sempre sonhei em estudar artes cênicas, mas nunca tive
um caminho para isso. Agora, encontrei uma trilha — diz Girleide, ao
lado do colega Kaique de Jesus Santos, o único da orquestra de "Acorda
Brasil" com experiência na telona.
Hoje com 18 anos, ele foi
visto, aos 13, como o filho caçula da família mostrada em "Linha de
passe" (2008), de Walter Salles e Daniela Thomas.
— A música manteve os garotos de Heliópolis no caminho do bem — diz Jesus Santos.
No
filme, Thaís Araujo, Sandra Corveloni e Fernanda de Freitas juntam-se a
Lázaro numa narrativa que tem como referência o filme francês "Entre os
muros da escola", de Laurent Cantet, premiado com a Palma de Ouro no
Festival de Cannes de 2008, e também ambientado num universo escolar de
periferia.
— Nos últimos dez anos, chegaram para mim convites para
atuar em uma série de filmes que apontavam problemas sociais mas não
viam um caminho de transformação, como este faz — diz Lázaro, cujo
personagem esbarra com um antagonista vivido pelo rapper Criolo, o
traficante Cleyton. — Atuando, Criolo é quase uma entidade.
Hoje,
"Acorda Brasil" deixa as locações em comunidade e vai pra a Sala São
Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Lá,
Machado filma o teste que Laerte presta para a Osesp. Seu fracasso o
leva a ser professor em Heliópolis, onde sua vida muda. Visualmente, o
fotógrafo do filme, Marcelo Durst (consagrado por "Estorvo" e sumido das
telas há seis anos) frisa a diferença de olhar do personagem de Lázaro.
—
Buscamos uma identidade visual capaz de traduzir os dois modos de olhar
do Laerte, antes e depois de Heliópolis. No começo, quando ele chega
sem enxergar a vida a seu redor, eu desfoco a lente da paisagem, e me
fixo nele — explica Durst.
Astro de "Cidade Baixa", Lázaro sai do
set de "Acorda Brasil" deixando uma missão para Machado, envolvendo a
adaptação da peça "Namíbia, não", que o ator dirigiu no teatro em 2011:
— Se Sérgio escrever o roteiro, eu dirijo "Namíbia, não" e estreio como cineasta. Prometo.
Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/lazaro-ramos-criolo-contam-no-cinema-historia-vitoriosa-de-jovens-musicos-da-periferia-5245420
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