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O Samba que mora em mim



“O SAMBA QUE MORA EM MIM” toca além da quadra e é composto com notas pessoais.
É um samba de olhar. Dá para sentir o tato da mão.

É o samba como jeito de dormir, de acordar, de procriar, de se agasalhar, de se alimentar, 
de criar filho, de se entender na vida. O samba como jeito de ser.
É um samba que mora andando, andando…. Mora no sapato.
No meio tem rosa. Rosa é cor feminina. Mas não é só rosa. Tem o verde.
É o samba que mora no ócio, no excesso, na pulsação.
Um samba que alcança o tom da felicidade.
Pagode, funk, forró. Violino, radinho, moto, TV.
Dormir com barulho. Acordar com barulho.
É um samba de encontro.
Um samba de silêncio; na noite do carnaval.
Que vai ou racha. Que fica e espera.
“O SAMBA QUE MORA EM MIM” é uma partitura visual.
Um samba-enredo-documental duma largueza as vezes melancólica, 
as vezes cômica e sempre ardente.

( Georgia Guerra-Peixe )

SINOPSE – "O SAMBA QUE MORA EM MIM" é um documentário ambientado no Morro de Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro, no período do pré-carnaval. O ponto de partida é a quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, lugar do reencontro da diretora Georgia Guerra-Peixe com sua própria história. É no inicio do documentário, em primeira pessoa, que a diretora conta o que o carnaval sempre significou na sua família e na sua vida. Da quadra, ela parte para subir o morro pela primeira vez, movida pelo desejo de ir além do samba. “Se eu pudesse calar uma escola de samba....” O olhar muito particular da diretora conduz este deixar-se ir continuo pelo morro; um caminhar que naturalmente vai adquirindo variações melódicas e cadências rítmicas diferentes, resultando na composição do que poderia ser chamado de samba enredo documental ou um samba de olhar. Além da quadra mora o samba de Georgia Guerra-Peixe. Um samba que é jeito de ser, de viver e também, mas não só, de cantar e dançar. 


A RAIZ DA FELICIDADE, NA CADÊNCIA DE UM NÃO-SAMBA – O documentário é uma espécie de poesia do cinema, um lugar onde se pode experimentar, um gênero muitas vezes considerado menor, sem muitas mulheres na direção. Felizmente, Georgia Guerra-Peixe veio quebrar esse paradigma.

Georgia dirigiu o documentário O SAMBA QUE MORA EM MIM como só uma mulher poderia fazer. E o fez com toda a poesia do mundo. E sem muito alarde.

O SAMBA QUE MORA EM MIM é um passeio suave, cheio de ruídos naturais, pelo mitológico morro da Mangueira. Um passeio ousado, já que o Rio de Janeiro vive hoje um tempo crivado de balas perdidas e gente desinteressada – de verdade – por aquilo que acontece lá em cima, no topo da cidade.

E foi lá em cima que Georgia e sua equipe passaram meses entrando e saindo das casas de pessoas comuns, distantes da nobreza do morro. Entravam e saíam discretamente, como só a melhor poesia sabe fazer. 

Foi uma escolha deliberada: olhar a vida desses oito personagens quase anônimos que entram e saem do filme sem nome, muitas vezes cantarolando, falando dos problemas sem dar grande peso a eles, mostrando uma alegria de viver que os bolsos mais forrados de dinheiro não conseguem demonstrar. Há o cidadão que diz morar no próprio sapato. A velha centenária que continua bem viva. O descendente de portugueses que não sabe tocar cavaquinho mas toca assim mesmo, diante da mais bela paisagem que o morro descortina. E assim por diante.

Georgia voltou-se para si mesma, para o tempo em que acompanhava o pai – um funcionário público com alma de sambista – à quadra da escola de samba. Ela que gostava de samba não pelo samba em si, mas por tudo que orbitava ao redor dele. E esse tudo tinha as cores da felicidade. Portanto, o que ela buscaria com esse filme seria a raiz dessa felicidade. E ela, ali, parece cobrar muito pouco. 

Nunca se viu uma câmera de cinema tão discreta percorrendo as sinuosidades estreitas de uma favela. Talvez só os personagens de Eduardo Coutinho, um dos ídolos confessos de Georgia, tenham conseguido divagar com tanta sinceridade para uma lente e um cineasta, como fazem as pessoas desse SAMBA QUE MORA EM MIM. E outra coisa rara: uma música que comenta e não é ruído, não parece apenas um filhote esquisito e barulhento de um frio sintetizador. 

O SAMBA QUE MORA EM MIM consegue levar o espectador para dentro da favela, silenciosamente, sem tirar uma caneca de alumínio que seja do seu lugar habitual. E consegue falar da favela sem encher os nossos ouvidos de samba. Ou funk. Ou balas zunindo. Sem mostrar traficantes exibindo o torso nu e a o fuzil a tiracolo. Curioso é que tudo isso está lá – o samba, o tráfico, a miséria–, mas não precisa ser enunciado. 

O que Georgia, sobrinha-neta do avançado maestro César Guerra-Peixe (1914-1993), encontrou no morro da Mangueira foi o fecho da própria história. A felicidade inaugural de quando chegava ao pé do morro na companhia do pai. Como ela mesma diz a seguir.


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